Férias e livros
O início das férias é sempre coincidente com o início de um livro. Por mera casualidade ou talvez por minuciosa subconsciente programação. Pena é não haver férias muitas vezes no ano para os livros se sucederem, como os meses se sucedem, a espaços conhecidos numa aprazível tranquilidade, sem sobressaltos nem contratempos e com muitos momentos bem vividos e saboreados.
Saio para descansar sempre acompanhado com um ou dois livros e uma ou duas revistas. Desta vez a escolha foi mais fácil porque já estava programada. O meu objectivo de férias no que diz respeito às leituras, pois o resto são outras histórias que passam por cidades, museus, concertos, festas, romarias, praias, piscinas, esplanadas, caminhadas, cervejas e, sempre que possível, algum descanso, é livro e meio, se possível dois livros. Vou escrevendo algumas notas para o blogue, procurando novos livros e novas músicas, tentando perceber alguns acontecimentos da nossa história sediados nas terras por onde vou passando e, quando o tempo me ajuda, rabisco no computador os textos que vão saindo.
Hoje, sentado na varanda de um qualquer hotel, tendo entre mim e o mar apenas uma piscina e alguns metros de areia, roubando tempo aos preciosos mergulhos na ondulação meã entre a preia-mar (agora também dito praia-mar) e a baixa-mar, resolvi falar do livro que trouxe para me entreter quando o calor não aperta na praia ou a esplanada me presenteia uma gelada cerveja dum nome bizarro que as artesanais têm agora a mania de colocar.
Ainda a meio da leitura, apeteceu-me começar a falar dele porque, ainda pouco iniciado e já o tipo de escrita me estava a prender duma forma pouco habitual e de uma forma que há algum tempo um livro não me prendia assim. Não me interessa a veracidade histórica, interessa-me a estória do livro, interessa-me a forma como está escrita, interessa-me a narrativa, interessa-me a ligação das personagens, interessa-me o conteúdo. Interessa-me acima de tudo que me surpreenda pela sua qualidade. Foi isso que aconteceu. Quem começa um livro assim, só poderá acabar melhor. Não acredito que com o continuar da leitura vá perder a qualidade. Antes pelo contrário, estou francamente convencido que vai ser sempre a melhorar. E estou tão agradavelmente surpreendido que me escusei de procurar comentários e apreciações ao livro. Simplesmente quero lê-lo ausente de influências. Refiro-me a “Os loucos da rua Mazur” de João Pinto Coelho.
Vou-me abstraindo do ruído que me envolve pela própria leitura. Às tantas já não há lugar para mais nada. Apenas para o texto que vai crescendo em forma e conteúdo. Intervalo-o com um ou dois golos da simpática loura gelada e nessas alturas aprecio também o mar. Calmo, com uma ou outra onda mais destemida, azul claro e luminoso. Que bonito está contrastando com o dilúvio de emoções que o livro transborda.
Fico na dúvida se me apetece ouvir o Concerto para violino e orquestra de Tchaikovsky ou a Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. Talvez mais algumas páginas do livro ou o evoluir das ondas do mar me dissipem a duvida.