As críticas! Hum!
Quando lemos um romance pretendemos pelo menos duas coisas, que nos toque emocionalmente e que esteticamente reúna um conjunto de características que o tornem belo, pelo menos para os nossos padrões enquanto leitores. Isto leva a que textos não muito atraentes esteticamente mas com uma ligação emocional com o leitor sejam bastante apreciados e temas que habitualmente não seriam procurados, pela sua beleza literária são bastante lidos.
Há livros para as quatro variantes. Os que nos tocam e são bem escritos, os que nos tocam e não estão tão bem escritos, os que não nos tocam mas estão muito bem escritos e os que não nos tocam nem estão bem escritos.
Há a publicidade. Todos os livros publicados são muito bons. Estão todos muito bem escritos. São de uma profundidade arrepiante. Tocam todos os nossos sentidos. O escritor é a maior revelação de todos os tempos ou estamos perante a consagração e re-consagração dos já consagrados.
Talvez seja necessário inventar mais prémios literários. Todos os escritores merecem pelo menos dois. Muitos já ganharam prémios, uns internacionais, outros lá da paróquia, quem sabe, até talvez prémios atribuídos nas reuniões do condomínio.
“Uma voz narrativa que parece capaz de todas as proezas estilísticas” li na badana dum livro, entre outros abonatórios comentários. Fiquei logo entusiasmado. Um livro bem escrito com um tema que me é querido, a arte, a pintura, os quadros...
Comprei o livro e li-o. O meu entusiasmo foi-se desvanecendo ao longo da leitura. Uma história crítica da sociedade onde, metidos à pressão, eram descritos quadros e vidas de pintores. Talvez eu consiga construir um livro. Reúno meia dúzia de quadros, descrevo-os, escrevo excertos da vida dos autores e vou alternando com episódios da vida quotidiana. Digo mal dalgumas instituições e meto pelo meio uma história de amor. Acrescento duas ou três situações trágicas.
Cozo em lume brando e deixo repousar. Quem sabe, uma redução em vinho tinto. Amacia a leitura dando-lhe um toque a frutos vermelhos e um final de boca com madeiras. Tudo aquilo que me faltou no “O nervo ótico” de María Gainza.
Como se costuma dizer, não há bela sem senão e, se o que escrevi foi o senão, deixem-me passar à bela.
Há muitos anos, talvez a rondar os 20, apaixonei-me por um livro, se é que nos podemos apaixonar por livros, que relembro amiúde. Um conto fabuloso de Robert James Waller, de 1992 e publicado em Portugal em 1995. Apesar de inicialmente não ter sido muito aplaudido pela crítica literária, foi em 1995 adaptado ao cinema, com realização de Clint Eastwood, que também o protagonizou ao lado de Meryl Streep. Pois, este não tinha grandes críticas, a badana não o valorizava tanto. Mas o miolo... era doutra cepa.
A velha discussão sempre presente nestas adaptações. O livro é sempre melhor que o filme? Aqui não se põe. São os dois fabulosos. E agora que está a haver uma moda livreira de reedições de clássicos, aconselho vivamente a leitura do livro. É claro que estou a falar de “As pontes de Madison County” .