A arte moderna e Eu ou A síndrome de atração - repulsão
PL
A arte moderna surge num período de conceptualização, em que o relevo pictórico passa a um segundo plano. Como o conceito de arte é muito lato, muitas vezes para além daquilo que é perceptível, pelo menos por mim, passamos a uma circunstância em que a transmissão da ideia se concretiza num processo artístico sem que representação associada assuma uma estética canónica.
Observamos esta realidade duma forma transversal a todas as disciplinas artísticas. O compreender vai substituindo o gostar e a adopção da mensagem como pertença partilhada assume-se como fundamental.
Pessoalmente, tenho dificuldade em entender este paradigma. Se entendo que é importante passar a mensagem, entendo também que a arte tem que ser representativa e pictórica.
Recentemente visitei a exposição “Arte e China após 1989”. Uma exposição colectiva de artistas de vários locais da China e do mundo, que, como é descrito, as suas provocações críticas visam forjar a realidade livre da ideologia, estabelecer o indivíduo à parte do coletivo e definir a experiência chinesa contemporânea em termos universais. Balizada pelo final da Guerra Fria em 1989 e pelos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 é analisada a cultura da experimentação artística durante um período caracterizado pelo início da globalização e o surgimento de uma China recentemente poderosa no cenário mundial.
Se consigo perceber a premência da liberalização do pensamento com uma exponenciação artística que extravasa a repressão dos muitos anos passados de ideologia unitária subjugada aos valores vigentes, não compreendo assim tão facilmente a pobreza da representação artística. A par da emanação conceptual não se encontra a explosão imaginativa requerida para a perenidade do motivo. E por isso, para mim não foi mais do que um grito passageiro de liberdade criativa que não figurará na história da arte contemporânea.
Talvez seja este tipo de representação que esteja a obrigar a uma progressiva transição para um pós-modernismo hiperrealista, já em voga, por exemplo, na pintura. Noutros segmentos como a música, encontramos ainda caminhos paralelos entre uma estética musical moderna, bem preparada, agradável de se acompanhar, albergando géneros que vão do jazz ao fado e outros que pretendem transmitir ideias e não belezas. Na literatura penso que esta fase já está ultrapassada e muitos dos autores contemporâneos estão a mostrar o muito bom que se está a escrever quer em riqueza linguística quer em diversificação temática.
On a smiling gust of windacompanhou-me na última hora, com a sua modernidade estética não conceptual, deixando-me, mais uma vez rendido à música de Florian Favre.