Jazz no final da tarde... um agradável luxo
Foi num fim de tarde soalheiro de um sábado parecido com tantos outros, onde o cansaço da semana se começa a reflectir e a ideia de tranquilidade já se instalou, na varanda pequena mas simpática, com o ruído tranquilo da rua camuflado pela deliciosa sonoridade dos phones, que apreciei entusiasmado o recente álbum de originais de Elisa Rodrigues, As blue as red.
Numa primeira abordagem seria apenas para embalar a leitura de uma das muitas revistas que pacificamente vão ficando à espera na mesa do escritório por melhor oportunidade. A entrevista a Boris Groys era o objectivo. A arte contemporânea o tema.
A abordagem complementar da música de tendência jazzística com a estética contemporânea, deveriam fundir-se numa metamorfose única onde sobressaísse o componente poético, factor primordial para o entrevistado.
E este componente poético começou a surgir na voz de Elisa Rodrigues, com alguma surpresa no primeiro tema, mas de forma crescente nos temas que se seguiram.
As primeiras perguntas da entrevista foram progressivamente substituídas pelas audições repetidas dos diferentes temas do álbum e, muito rapidamente, o meu repouso foi acompanhado pelo descanso da revista no meu colo. Não porque a entrevista não fosse interessante, mas porque a música era deliciosamente encantadora.
Foi uma descoberta ocasional, que muito tenho que agradecer à fortuita audição de um programa de rádio em que verdadeiros conhecedores da boa música conversavam.
Uma voz abrangente com uma tonalidade carregada de vários estilos acompanha a sonoridade instrumental num estilo de smooth jazz. Pelo menos é esta a minha interpretação. Em trabalhos anteriores é notório um jazz mais elaborado, mais trabalhado do ponto de vista musical, mas com a mesma dedicação e empenho vocais.
Repeti umas quantas vezes alguns temas.