Cinco sentidos - A visão
PL
A manhã ia soalheira, o passeio tinha sido simpático e o descanso já se impunha pois 2 ou 3 gotas de suor teimavam persistir na fronte apesar dos repetidos cuidados para as banir completamente. A máquina fotográfica pesava numa mão e o livro escorregava na outra, também eles a pedirem, uma o merecido repouso, o outro uma oportunidade de se mostrar pela última vez. Sentei-me no café. Abri o livro. Olhei para a porta. A luz exterior rivalizava com a serena penumbra interior. As roupas vivas de quem passeava tornavam-se mais vivas. O café deliciosamente aromático esperava pela amena temperatura de degustação. Por fundo, o borburinho das muitas conversas. Antes do livro, a máquina. E a fotografia saiu. Depois o livro. O suave descanso da máquina. Meia hora era suficiente, mas transformá-la numa hora seria fabuloso. Terminei o livro. Mais um do Kawabata. Sobre o livro, o mesmo dos anteriores. Imperdível. Uma obra prima. Absorve-nos tanto como o absorvemos. Mais que uma leitura, é um prazer dos sentidos. Os aromas, as imagens, os sons. As memórias, a velhice, o amor e A casa das belas adormecidas.