O silêncio do barulho
O barulho das coisas ao cair fez-me lembrar Maurits Cornelis Escher e as suas imagens não reprodutíveis no mundo real. Foi um pensamento abstracto mas substanciado nas duas premissas seguintes. Sendo o tema de fundo o narcotráfico, a sua existência devia ser tão fictícia como as imagens de Escher. As várias histórias que preenchem o livro suportam-se nas diferentes escadas de Relativity. Desafiando várias normas, vão surgindo em vários sentidos. Aproximam-se ou afastam-se? Vamos percebendo o seu desenrolar, a bom ritmo, com a informação a surgir na altura certa. O contar da história é feito com recurso a outras levando-nos ao sentimento ambivalente que é também partilhado pelas personagens. São postos em causa valores fundamentais como a família, o amor e a destruição social. Valores que nos vão sendo mostrados ao longo da narrativa cuja contextualização vai sendo percebida, não surgindo ab initio como uma imagem global. É ao longo do livro que vamos percebendo as diferentes histórias e a sua ligação, sendo que este entendimento vai aumentar a curiosidade do final, que, como seria de esperar, eu não vou partilhar.
Apesar da muita gente, é curioso percebermos que as figuras relevantes desta história são solitárias. Na sua forma se ser, na sua forma de estar, na sua forma de viver. Faz-nos pensar.
Da mesma forma que me faz pensar In my solitude. Um álbum a solo de Branford Marsalis, gravado ao vivo na Grace Cathedral em São Francisco. Um concerto meditativo, intimista, para saborear em silêncio.