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Lata de Conversas

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03
Jul17

Botox... nas pequenas coisas

Paulo L

Ainda bem que há uma tendência de rejuvenescimento de romances com alguns anos. Não têm sido poucos os livros que fui lendo ao longo de anos e que vejo agora espelhados nas montras de algumas livrarias como se de grandes novidades se tratasse. Alguns mantendo os traços originais, outros botoxizados e outros ainda com capas completamente diferentes, deixando-nos por vezes a incerteza de já os termos lido. Mas ainda bem que assim é. Caso contrário estariam perdidos para as novas gerações. Da mesma forma que alguns livros que fui lendo foram remasterizados de edições mais antigas que certamente não me chamariam a atenção.

O Deus das pequenas coisas é um desses livros. Li-o quando foi lançado em Portugal já não me lembro bem o ano. Duas coisas me chamaram a atenção, o título e a capa. Já atrás falei sobre a escolha dos livros e não tenho a menor dúvida que se a capa ou o título não me chamarem a atenção, o livro passa-me ao lado. Excepção aqueles que me são recomendados. E ainda bem que este título me chamou a atenção, que eu peguei no livro, que li a contracapa... acabo sempre por ler os elogios transcritos, ignorando o facto de só lá estarem por serem elogios. Às vezes penso se o que lá vier escrito não for abonatório, se não despertará maior curiosidade no leitor. Por vezes isso acontece comigo. Uma critica má deixa-me expectante e com vontade de ler.

Mas voltemos a O Deus das pequenas coisas, onde o cenário é a Índia nos meados do século XX , com as importações políticas, sociais e culturais europeias misturadas nos usos e costumes mais tradicionais duma Índia ainda fechada pelos seus padrões mais tradicionais, fruto duma mescla de influências histórico-sociais. E conta-se a história de três gerações duma família, cheia de recortes originais, onde os mais pequenos pormenores são descritos com uma beleza poética incomensurável. É mais uma história de amores proibidos, é mais uma história com recortes sociais marcados pelas diferenças e incompreensões. É mais uma história que deve ser sentida à medida que se lê. Apesar de descrever os padrões sócio-culturais dos anos 60/70, é uma história que em muitos lugares é actual. E é talvez esta actualidade que faz ressurgir o romance de Arundhati Roy.

Talvez este intrincado jogo de paixões proibidas, misturado com a miscelânea cultural indiana se reveja nalguns aspectos mais rebuscados do barroco, atenuados pelo som mais grave do violoncelo, pelo que eu poria em fundo as Cello Sonatas de Bach, numa interpretação sublime de Mischa Maisky.

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