A propósito... Houellebecq
França 2022. As eleições presidenciais são ganhas pelo candidato do partido da Fraternidade Muçulmana. Possuidor de um carácter forte, determinado e francamente sedutor e conciliador, foi capaz de mobilizar o voto e vencer a Frente Nacional. Numa França até então política e socialmente desorganizada, o apelo à reestruturação superficialmente conveniente foi ganhando adeptos. Aos poucos, desde os organismos estatais às universidades, foram mudando a agulheta do destino para um rumo mais fechado e subordinado aos preceitos do rigor islâmico, negligenciando e excluindo os ideais de uma França europeia e europeísta. É esta ideia que se quer ser transmitida mas que vem surgindo encapotada num narrador, professor universitário e descontente com o rumo da sua vida, a começar pela sua tese de doutoramento sobre um escritor e crítico de arte, Huysmans, mas que a aproveita para, ao longo do texto, ir falando da literatura ocidental, da mulher enquanto ser menor e objecto de prazer e da hegemonia da comunidade islâmica. Com a chegada ao poder de Ben Abbes constata-se uma reorganização do país, com a diminuição marcada da violência, o aumento da segurança, a diminuição do desemprego, mas com uma imposição muito activa dos novos conceitos islâmicos como a submissão da mulher ao homem e a submissão do homem a deus. Claro que muitas outras ideias estão explicitas e implícitas no livro, mas, a meu ver, o foco está na modificação sociocultural e política duma europa islamizada talvez muito por culpa da decadência ocidental.
Claro que falo de Submissão, onde encontro mais a exposição de ideias do que um brilhantismo literário. Não seria o livro que eu gostaria de escrever mas foi um livro que gostei de ler. Há uma actualidade latente neste livro que vem de há alguns anos e que se manterá por outros tantos. A história passada em 2022 poderia-se-ia ter passado em 2012, 2017 ou 2032. E como contador de histórias Houellebecq convenceu-me em Submissão. Não sei se me convenceria se me tivesse iniciado em Houellebecq por Extensão do domínio da luta e certamente não me convenceria se tivesse começado por Lanzarote. Curiosamente nunca me chamou a atenção O mapa e o território. Vamos ver se as críticas me convencem.
Talvez ao ter terminado a leitura do livro me tivesse apetecido ouvir Karl Jenkins The armed man: A mass for peace.