A queda de um ano
PL
Aproxima-se a queda de mais um ano. Sucedem-se em dias caóticos, correrias infernais, descansos precários.
Revejo as imagens de Platoon e a morte do sargento Elias. Toca o Adágio de Barber. Sinto-me a tombar também. Fogo que pensava amigo. O tema continua meditativo, melancólico. Contrasta com a violência das imagens.
É quase amanhã. Apesar de sábado trabalhei bastante. Pesquisas, construção de textos, correções. Ano novo, vida nova não vai acontecer, por muito que gostasse. O mesmo stress, a mesma azáfama, os mesmos dias caóticos, as correrias infernais e os descansos precários.
A construção de Arthur Fleck baseia-se em princípios semelhantes. Queda após queda assente na amargura, no desprezo e na ignorância.
Choca-me a ignorância e, mais ainda, choca-me quem age na mais pura ignorância, imbuído dum espírito de acha que sabe tudo. Choca-me quem toma partido desconhecendo o cenário completo. Chocam-me os racionais que se portam irracionalmente. Chocam-me os imbecis e os idiotas. Chocam-me os palermas e os arrogantes. Chocam-me os que sabem tudo e os chico-espertos. Choca-me a ingratidão e a falta de respeito. Chocam-me os que não lêem e que não ouvem música. Choca-me a sociedade nos moldes em que caminha.
A música toca enquanto trabalho. A playlist vai longa e, embora seja apenas para me manter focado no trabalho, não deixo de fazer pausas cirúrgicas em determinados trechos. Fico-me por Ennio Morricone e pelo Cinema Paradiso. Já é amanhã. Não faz mal, há muita noite pela frente e a música ainda está no começo.