A metáfora civilizacional
PL
Curiosidade e grande expectativa. Foi assim com o livro de Bruno Vieira Amaral. Leitor habitual das suas crónicas, contundentes, mordazes e com um brilhante sentido de humor, o livro prometia.
Como Quadros de uma exposição de Modest Mussorgsky, escrito para homenagear um amigo pintor falecido, após ter visto a exposição, também neste conjunto de histórias aparentemente soltas se sente uma homenagem. O Bairro Amélia, não é só o Bairro Amélia. O Bairro Amélia são todos os bairros dum Portugal multicolorido e multicultural.
BVA reúne as histórias e o livro constrói-se. Uma a uma vão-se juntando na construção relacional do Bairro. De per si são apenas histórias, mas a sua conjugação, numa leitura seguida, transforma-as nas vivências quotidianas dos habitantes, com as suas vicissitudes e excentricidades, as suas ilusões e desilusões, as suas relações e separações.
Da mesma forma que Quadros de uma exposição, metaforicamente pelo piano, conta a visita duma exposição de quadros, As primeiras coisas apresentam o dia a dia de tantos bairros, superficialmente diferentes mas visceralmente iguais.
A sucessão de páginas traduz-se na complexização civilizacional do Bairro Amélia e na subsequente complexização duma sociedade pós-ultramarina num processo adaptacional e social que ainda deixa marcas, algumas já indeléveis, mas muitas ainda profundas.
Sociologicamente de uma riqueza notável. Tradutora do muito que se pode trabalhar na área e que deve ser fruto de uma análise séria, interpretativa e preventiva. Não chega falar, é fundamental perceber e actuar. Enfim, coisas cada vez mais raras num país que se quer proactivo, moderno e civilizado.