Um azulejo mais para o painel
Se lhe falta alguma coisa é a tonalidade sonora de fundo que, como mais um azulejo do painel, completa a cena construída pouco a pouco, de uma história, mordaz na sua crítica e sensível na sua descrição, que atravessa a vida de dois homens e dos mais que os acompanham, escondidos na clandestinidade da ficção. Bem escrito, desenha cuidadosamente a “cidade “ e a “montanha”, em pinceladas seguras de traço elaborado. Lê-se nas linhas e percebe-se nas entrelinhas. Viaja-se de Portugal a França, do café à montanha, da sanidade à loucura, da vida à morte. Viaja-se ao longo das páginas apreciando-se o colar contínuo do novo azulejo que vai completando o painel.
Também um painel se forma em Magic Moments (3) com pinceladas que vão de Heinz Sauer & Michael Wollny a Rigmor Gustafsson & Jacky Terrasson Trio, chegando a Viktoria Tolstoy. Um conjunto menos ortodoxo mas numa linha igualmente ficcionada em que algumas peças se percebem também nas linhas e outras nas entrelinhas. Texto e música que sobrepõem num imaginário muito real. Vale a pena gastar tempo com O homem que escrevia azulejos de Álvaro Laborinho Lúcio.