A primavera e não só
PL
Conhecemos coisas mas não sabemos muitas vezes o que são ou porque surgiram. Muitas vezes acabamos por aproveitá-las, dize-las ou mostrá-las em contextos diferentes, mas que acabam por se enquadrar. Já aqui falei da expressão “As conversas são como as cerejas”. Lembrei-me de abordar esta expressão, porque duma forma muito curiosa, me foi dita com uma explicação completamente diferente da justificação original.
Uma música que surge em muitos contextos e, em particular num que me irrita consideravelmente, quando aguardo ao telefone que me atendam uma chamada, é o Concerto para Violino de Vivaldi – A Primavera, incluído nas Quatro Estações, por sua vez incluídas num conjunto de doze concertos sob o título Il cimento dell’armonia e dell’invenzione. Nestes quatro concertos há um poema associado a cada um. Não vou reproduzir aqui nenhum dos sonetos, podem ser facilmente vistos em qualquer lado, vou apenas recomendar que os procurem e os leiam tentando encontrar ao mesmo tempo a sua tradução musical. Um exercício interessante.
Sendo A Primavera o mais alegre e vivo dos quatro e talvez por isso o mais conhecido. Toda a gente o identifica, não acontecendo, infelizmente, o mesmo com os outros três. Será um dos clássicos da música barroca mais conhecidos e curiosamente mais apreciados pelos que muitas vezes dizem não gostar da música clássica, em particular da música barroca. Não admira, foi por aqui que comecei. As quatro estações de Vivaldi, como vulgarmente conhecido, não é uma peça, são quatro concertos para violino e orquestra e isto muita gente não sabe. Vivaldi foi um compositor do período Barroco, que apesar de conhecido pelos seus concertos para violino, tem muita obra para variados instrumentos, outra coisa que muita gente também desconhece. Mas aqui isso não importa, há muito mais coisas que eu desconheço e, quanto mais tento conhecer, maior é o vazio do meu conhecimento, maior é o buraco da minha ignorância. E é exatamente a descoberta de mais um vazio de conhecimento que me traz a felicidade, porque o conhecimento não é aquilo que aprendo, o conhecimento é a constatação daquilo que ainda tenho para aprender.
Seria muito fácil por uma fotografia da primavera. Preferi optar por outra tentando criar no leitor a curiosidade em ouvir os outros três concertos, reunidos nas Quatro Estações.