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Lata de Conversas

Lata de Conversas

04
Mar25

Não sei se me apetece mais !?

Paulo L

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PL

Levantam-se as dúvidas.

O próximo passo seria escrever frases que poucos percebem, utilizando palavras que só alguns conhecem, construindo um pensamento pseudointelectual assente na dúvida sistemática, numa exigência hermenêutica desmedida. Criar a confusão conceptual para desconstruir de seguida, não dizendo nada, fazendo sentir que muito foi dito.

Comecei a gostar de Charles Bukowski, da sua bizarria, da forma como cultiva e traduz a depravação humana numa linguagem violenta, crua e não censurada.

O que é a arte hoje?

Mantenho o apreço, o gosto, o entusiasmo pela canónica.

Começa-me a irritar o moderno, o conceptual, as instalações transformadas em arte. É mais importante criar um nome do que criar arte.

Ouço as músicas do festival da canção; onde estão os poemas? Letras vazias. Vale a mise en scène. De acordo com a cultura do tiktok, da futilidade e das pseudocausas. Para onde tende a cultura social da civilização?

Lido mal com quem não lê. Falar de cultura é falar de quê?

Não sei se me apetece mais, não sei se é a última vez que escrevo. Talvez!

 Vou ler poesia, ... da boa e, quem sabe, passear à beira mar!

25
Dez24

Será tempo de parar!?

Paulo L

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É vertiginosa a rapidez com que se aproxima 2025.

Ano após ano repetimos promessas, para o ano é que vai ser, mas a volta é sempre de 360º. Ficam palavras esquecidas, frases não ditas, coisas por fazer. Os textos que não escrevi, a música que não ouvi, o filme que não vi e o livro que não li. Esqueço-me, escondido no amor que tenho aos meus filhos e à minha mulher, que lhes digo ao anoitecer, atrás do beijo de boa noite. Não sempre mas amiúde. E deito-me a pensar em tudo aquilo que não fiz.

Talvez seja a altura de não deixar nada por dizer, mas de que valerá?

Cabrita Reis vai fazer uma ponte nos jardins de Serralves, enfim…  Será tão má como Linha do mar?  As músicas da Bárbara Tinoco são todas iguais. E a originalidade dos filmes de Natal perdeu-se no século passado. A Casa dos Segredos tem elevados níveis de audiência e a Cristina Ferreira continua a berrar na TVI.

A mediania e a mediocridade instalaram-se e a futilidade impera. Trocaram-se os livros pelo Facebook e as séries pelo TikTok. As reuniões são on-line e as conversas pelo Whatsapp. As pessoas não se juntam. Beber um copo é fundamental. Trocar ideias, contar piadas, conviver.

Os jovens vêem The Office e Friends, e outras séries com alguns anos. Pergunto-me porquê? E até os Morangos com açúcar perderam toda a virtude. Há agora um fastfood televisivo trazido por qualquer motoreta Ubereats em velocidade estonteante atravessando a mente juvenil da mesma forma como atravessa perigosos cruzamentos e rotundas, deixando o mais sensato perplexo e assustado.

Vêem-se instalações nos museus de arte moderna em que, nem após a leitura exaustiva das explicações, se vislumbra o artístico. E perdem-se as tradições seculares porque já ninguém as transmite aos mais novos. O que eu chamo de “a importância do histórico”. Destrói-se porque não se sabe porque se construiu e o pior, é que nem se quer saber.

Mas ainda bem que não percebo nada de arte. Assim posso dizer todos os disparates que me apetecer.

Ouço Cassandra Kubinsky e Sawyer Fredericks, Burn it down.

É preciso ter um caos dentro de si para gerar uma estrela cintilante.

Sinto o caos, mas não gero a estrela.

30
Mar24

Há dias e há dias assim

Paulo L

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PL

 

Leio Jon Fosse e ouço Cacciapaglia.

A chuva assiste pela janela, incansável. Bate a compasso.

As dores no corpo do esforço excessivo de ontem mantêm-me preso ao sofá.

Sinto falta das habituais presenças de sábado à tarde.

 

Sigo o monólogo do homem que conduz sem destino, sentindo-me a acompanhá-lo, eu errático no pensamento, mas com a mesma dificuldade na certeza do caminho. As interrogações, muitas e constantes, acompanham o ritmo da bátega. Paro amiúde a leitura, quando o trecho musical assim me pede. Feliz chuva que me retém em casa. Aprecio o encadeamento do texto pela forma como me mantém preso ao fluxo de ideias, numa sequência de incertezas no meio de nada. A passagem ténue da realidade ao imaginário, sem o exagero descritivo do fantástico, mantém-nos no limiar do racional ajudado pelos constantes retornos à consciencialização do real, do conexo e do absurdo.

 

Yayoi Kusama é japonesa e artista. Andou pelo expressionismo abstrato e pela arte pop e, como agora muito em voga, valoriza o conceptual. A arte não é o que se vê, mas o que representa.

 

Faz-me confusão estas coisas modernas. Estou em dúvida se vou a Serralves.

31
Dez23

A queda de um ano

Paulo L

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PL

Aproxima-se a queda de mais um ano. Sucedem-se em dias caóticos, correrias infernais, descansos precários.

Revejo as imagens de Platoon e a morte do sargento Elias. Toca o Adágio de Barber. Sinto-me a tombar também. Fogo que pensava amigo. O tema continua meditativo, melancólico. Contrasta com a violência das imagens.

É quase amanhã. Apesar de sábado trabalhei bastante. Pesquisas, construção de textos, correções. Ano novo, vida nova não vai acontecer, por muito que gostasse. O mesmo stress, a mesma azáfama, os mesmos dias caóticos, as correrias infernais e os descansos precários.

A construção de Arthur Fleck baseia-se em princípios semelhantes. Queda após queda assente na amargura, no desprezo e na ignorância.

Choca-me a ignorância e, mais ainda, choca-me quem age na mais pura ignorância, imbuído dum espírito de acha que sabe tudo. Choca-me quem toma partido desconhecendo o cenário completo. Chocam-me os racionais que se portam irracionalmente. Chocam-me os imbecis e os idiotas. Chocam-me os palermas e os arrogantes. Chocam-me os que sabem tudo e os chico-espertos. Choca-me a ingratidão e a falta de respeito. Chocam-me os que não lêem e que não ouvem música. Choca-me a sociedade nos moldes em que caminha.

A música toca enquanto trabalho. A playlist vai longa e, embora seja apenas para me manter focado no trabalho, não deixo de fazer pausas cirúrgicas em determinados trechos. Fico-me por Ennio Morricone e pelo Cinema Paradiso. Já é amanhã. Não faz mal, há muita noite pela frente e a música ainda está no começo.

10
Dez23

Carta ao Pai Natal

Paulo L

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PL

Pai Natal,

Talvez estejas cansado de ler tantas cartas. Pedidos e mais pedidos, certamente bizarros alguns. Conversemos apenas. Sobre o mar e as ondas, a espuma, as algas, o sargaço. Gosto de ver os pescadores a regressarem da faina. Gosto dos covos empilhados ao lado das boias, das redes estendidas. Gosto do cheiro da maresia. Que me dizes do mar, Pai Natal?

Na minha terra há mar e pescadores. Há peixe fresco e varinas, há música e folclore. A minha terra é uma terra alegre. Quando vens à minha terra?

Rodeio-me de livros e revistas, ouço jazz, clássica e pop.

Lá longe onde só há céu, as nuvens correm ordeiras e a lua mostra-se envergonhada. Parece que vai chover. Pelo menos o cinzento mesclado anuncia. Penso em nada com a mente preenchida por tudo. Nunca aprendi a fotografar a lua, apenas a guardar a sua claridade. Não conheço o som da lua. Debussy mostrou-nos o luar.

31
Jul23

Os clássicos, os outros e a inteligência artificial

Paulo L

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PL

 

Sempre me interroguei porque uns livros são os clássicos e outros não são senão livros. Como é feita a escolha, quem decide o cânone? Usei a inteligência artificial. Perguntei ao Chat GPT porque assim eram considerados.   A resposta foi a esperada. Entre outras, as razões são o valor literário, a influência cultural, o reflexo histórico, a longevidade, a contribuição ao cânone literário, o apelo intemporal.

Li livros que permanecem na alma, que poderiam cumprir o preceito, mas que desapareceram do mundo. Que sugiro, aconselho, mas já não existem, habitando apenas em pequenas ou vulgares bibliotecas de uma meia dúzia de incautos ou privilegiados que os compraram num assomo de sorte, numa obra do acaso ou num conselho momentâneo e assertivo num espaço curto e volátil de tempo.

Há muito tempo, tanto que se fosse um conto de fadas, poderia dizer há muito, muito tempo, li Mentira de Enrique de Hériz. Uma narrativa sublime, um tema intemporal. A morte, o esquecimento, o faz de conta, as mentiras que vão alimentando a vida. Não há reedições, não consigo voltar a oferecer.

Alguns anos mais tarde chegou-me à mão, numa saborosa oferta duma familiar, A casa de papelde Carlos Maria Dominguez. Um livro pequenino de leitura breve. Fala de livros e da forma como podem mudar a vida das pessoas. Fala das bibliotecas, fala do destino. Quis oferecer, encontrei um exemplar no OLX. Fortúnio de um momento de desesperada procura. Lembro-me dos primeiros dois que ofereci, numa pilha de vários no balcão da Bertrand do centro comercial. Devia tê-los comprado todos. Esgotado e não disponível.

Pululam nos destaques das livrarias e editoras relançamentos dos clássicosde alguém, do cânone que outro alguém decidiu perpetuar. Vivemos numa época em que é perigoso pensar, arriscado decidir, por em causa o status quo. Relançar os clássicos é simples, é seguro, não obriga a pensar, não é necessário decidir.

 

Bestial ou besta, dependendo dos pontos de vista, vai variando a inteligência artificial e a sua sigla IA ou AI de acordo com a preferência nacional ou anglo-saxónica do utilizador. Assumimos a IA como o somatório revisto e aumentado da IN. Sigla que atribuo a inteligência natural, atributo que vi escasseando mas que espero ainda não em vias de extinção. Ao perguntarmos ao Chat GPT o que é a IA, entre outras coisas diz-nos que envolve tarefas como o raciocínio e a tomada de decisões. Uma complexificação computorizada da IN, acrescento. Estão a ser desenvolvidas redes neuronais profundas cada vez maiores em plataformas computacionais, pode ler-se noutro local. A rede neuronal humana é infinitamente mais complexa. Da mesma forma que dizem que o homem criou Deus, mas será que foi Deus que criou o homem? O homem criou a inteligência artificial, o que irá criar a inteligência artificial?

Somos providos de 5 sentidos. As minhas tomadas de decisão baseiam-se na aprendizagem, na experiência, nos erros cometidos e na sensibilidade com que uso os meus 5 sentidos, tarefa que vejo muito distante a qualquer poderoso computador.

 

A lua está crescente, amanhã será lua cheia, talvez me transforme num lobisomem.

22
Abr23

Aliteracia – termo obtuso num país de intelectuais

Paulo L

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PL

Podia ser na mesa da esplanada de sempre ou na mesa duma esplanada qualquer, onde a diferença não se nota pela indiferença de tudo o que passa. A pressão sente-se na cerveja que tarda em chegar, no calor impróprio de Abril, nos decotes tatuados que tentam fugir de coloridos soutiens reduzidos e amarrotados. Passam personagens vestidos de anime, outros apenas de forma bizarra. Cabelos vermelhos, promoção de cabeleireiro, desfilam vaidosos na marginal. Não sei interpretar o que vejo. As tatuagens, as unhas de gel, os cabelos coloridos, A aliteracia social que me ataca feroz deixa-me inquieto. Reconheço que talvez seja eu a levar a espingarda no ombro errado.

 

Orchestral Drama  é uma compilação. Sonoridade agreste que contrasta com o mar tranquilo, interminavelmente azul, espraiando-se na areia dourada pelo sol. Ao longe a linha vincada do horizonte onde os dois azuis combinam num imenso abraço. Por momentos pensei que o mar acabava ali e se pudesse dar mais um passo caía do mundo. A música devolveu-me a realidade.

 

Li a crónica de Isabel Lucas – A casa.

Faz-me falta a minha máquina fotográfica.

 

24
Fev23

A beleza dos dias

Paulo L

 

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Olho para a fotografia de Helmut Newton. O erotismo latente desperta-me a atenção. O corpete, a posição da cabeça, as mãos nos seios que sobressaem. Olho para o túmulo atrás. Um homem segura uma cabeça. O túmulo é de Fernand Arbelot. Arbelot a contemplar para sempre o rosto da mulher. Escondido atrás da jovem o túmulo de François-Joseph Talma. Mas é o primeiro plano que retém a atenção. A sensualidade surge associada a vários aspetos. O escuro da roupa, a pressão nos seios que saem do corpete, o olhar para baixo que oculta os olhos. Porque olha a jovem os seios premidos pelos dedos?

A beleza da ideia esfuma-se na beleza da jovem modelo produzindo uma dissemelhança na paisagem global. A modificação do ponto de interesse é feita de forma subtil pela colocação da jovem no primeiro plano, sendo titulada a fotografia pelo elemento menos perceptível. A reeducação sensorial remete, de outra forma, para o erotismo latente, não substituindo a sensualidade expressa. Foquemo-nos no global.

Ouço Pierre Bertrand no meu aparelho de som. Transporta-me dentro de um imaginário musical bucólico-idealista extracanónico. Deixo sublimar os pensamentos autodestrutivos associando os dois padrões de beleza.

O copo de um bom vinho está ali, disponível. Monte Xisto. Touriga Franca e Touriga Nacional com um pouco de Sousão. Um Douro com um corpo acolhedor. Perco-me no tempo. Lembro-me que tenho que mudar o meu aparelho de som.

22
Jan23

Noites de tempestade

Paulo L

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PL

 

Não sei se há uma hora específica de almoço. Aliás, não sei se há horas específicas para alguma coisa. Mas, numa ordeira combinação de tempos, troquei o que deveria ser a hora de almoço por um aprazível período que dediquei a ouvir música, sendo que não o fazia há algum tempo.

Também há muito que não saboreio um tinto verdadeiramente encorpado e aromático.

Talvez tivesse chegado a altura. Faltava apenas qualquer coisa para ler, quiçá uma companhia também, apreciada em silêncio, de sorriso pronto e olhar enternecedor.

A playlist ia tocando aleatória escolhida pela moderna inteligência artificial supondo-se a meu gosto, mas errando amiúde.

Fui folheando e lendo algumas passagens de Le  vin & La Musique – Accords et Désaccords. A constante simbiose do vinho e da música, ao longo dos tempos e nas suas várias vertentes.

Apeteceu-me abrir a derradeira Quinta do Monte Xisto.  Touriga Nacional, Touriga Francesa e Sousão.  Equilíbrio perfeito. Um excelente vinho.

A memória transportou-me a Karen Blixen e à A festa de Babette. A gratidão e o apreço. Um conto cheio de sensibilidade.

Babette chega numa noite de tempestade. Talvez as noites de tempestade sejam boas para se chegar. Talvez sejam boas também para partir. A tempestade traz a mudança, depois da tempestade vem a bonança.

Termina hoje a exposição de Steve McCurry.  Saí com a minha máquina. Saio muitas vezes com a minha máquina. Disparo incessantemente sobre os vários motivos que vão surgindo. A luz matinal adequa-se, mas é o preto e branco que me preenche a alma.

Como eu gostava de uma noite de tempestade para a poder fotografar.

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