Muito bom, sem dúvida!
Após ter lido uma entrevista com John Banville, fiquei curioso para conhecer a sua obra. Como por magia, A guitarra azul caiu-me nas mãos cerca de um mês depois.
Escrito numa linguagem doce, metodicamente calculada e de uma elegância primorosa. Cheio de comparações fantásticas e inusitadas acrescentando uma beleza descritiva á narração e aprimorado pelas constantes regressões temporais que dão corpo à história, este livro foi dos melhores que li nos últimos tempos. Uma história que se crê diferente daquela que vai surgindo e que leva o leitor a um final inesperado. Apesar de uma história banal, a escrita de Banville transforma-a numa apetecível narrativa, que cria no leitor uma sofreguidão de leitura. Não descansei enquanto não terminei de o ler e, apesar da conclusão narrativa poder ser facilmente perceptível, a forma como a história é contada, pela voz do seu protagonista, levou-me a por outros cenários conclusivos em questão, tendo sido surpreendido com o desfecho.
Nada neste livro é deixado ao acaso. Tudo é pensado ao mais ínfimo pormenor. A cadência dos factos, intercalada com a explicação numa forma temporal regressiva, que surge nos momentos exatos, não revelando antecipadamente os acontecimentos. E apesar destas interpolações temporais, o fio narrativo não se perde. Muito pelo contrário. Ganha força, maturação. Dá-se em preenchimento da história sem haver um acrescentar de lugares comuns ou texto para encher.
A delicadeza da escrita coaduna-se, a meu ver, com a delicadeza sonora do saxofone de Branford Marsalis em Eternal. Já falei deste álbum, mas pela sua beleza melódica e interpretativa, gostava de falar aqui nele outra vez. Um álbum para continuar a ouvir e apreciar, de olhos fechados, após terminar a leitura.
Um dueto a não perder. Guitarra azul e o saxofone de Marsalis.